Sem categoria
- colmeia
- comunidade
- desenvolvimento infantil
- educação infantil
- ensino fundamental
- ensino médio
- época de páscoa
- revista micael
- Sem categoria
- sustentabilidade
- waldorf100
Caminhos entrelaçados
Há 40 anos, um grupo de pais e professores de São Paulo começava a unir forças para criar uma nova escola Waldorf na cidade. Era o impulso que daria origem ao Colégio Micael, embrião da comunidade que somos hoje.
Nessas quatro décadas, quantos encontros aconteceram neste chão que pisamos todos os dias? Quantos caminhos se cruzaram e quantos ainda irão se cruzar? Somando-se as pessoas que já passaram por nossa escola com aquelas que estão hoje aqui, chegamos a 2.543 alunos, 304 professores e funcionários e cerca de 1.200 pais e mães!
Para celebrar o aniversário do colégio, que será em 29 de setembro, os integrantes da Escola de Pais tiveram a ideia de criar um mosaico que simbolize esses tantos caminhos que se entrelaçam no Micael. O projeto, coletivo, começou a ser desenhado na última quarta por 12 pessoas do grupo.
A seguir, duas mães da Escola de Pais, que estão em momentos bem diferentes de sua trajetória no Colégio Micael, contam mais sobre o projeto:
“A Zita [coordenadora da Escola de Pais] havia me pedido para elaborar um desenho para o nosso projeto. Tracei alguns esboços, mas logo percebi que aquilo não deveria ser feito por mim. Inspirada na ideia do trabalho coletivo que envolve um mosaico e na trajetória que havíamos percorrido até aqui na escola, sugeri que o tema ‘caminhos’ fosse a nossa inspiração. Então, cada pai e mãe presente no encontro da última quarta pegou um giz e traçou o próprio caminho num grande papel. Cada trajetória foi se cruzando com outra e se transformando. E assim nasceu o desenho do mosaico para os 40 anos do Colégio Micael.”
Sandra Monteiro Borba, mãe de uma aluna do 2º ano e de outra do 6º, está há 9 anos traçando seu caminho na escola
“Acabei de chegar à comunidade do Micael. Participar da Escola de Pais tem sido muito bom e fazer parte do projeto de um presente para os 40 anos do colégio, um grande privilégio. No segundo encontro que tivemos sobre o que poderia ser o nosso mosaico, contamos com a presença iluminada da Regina Steurer [arquiteta e mosaicista, mãe de um aluno do ensino médio] e entendemos que uma escolha como essa deve ser bem refletida e envolver toda a comunidade. O mosaico fica para sempre. Um mosaico numa escola é para todos. Ele é composto por muitas peças diferentes que, juntas, formam algo maior. E esse algo não deve ser uma escolha estética, deve ter um significado mais profundo. Percebemos como é importante que cada um do colégio se aproprie desse mosaico. Foi assim que surgiu a ideia de fazermos caminhos. O trabalho começou a nascer assim e tem sido uma experiência muito rica. Um caminho coletivo. E quanto mais pessoas participarem – alunos, professores, funcionários, pais – mais vida e sentido terão os caminhos do mosaico que ficará na entrada de nossa escola.”
Thais Roji, mãe de uma aluna do 7º ano e de um aluno do 3º ano. Iniciou sua trajetória no Colégio Micael há pouco mais de um mês
Percorra também esse caminho
Os encontros da Escola de Pais são abertos a todos e acontecem às quartas, das 7h30 às 9h, na sala de trabalhos manuais. O projeto do mosaico está sendo executado durante esses encontros e toda a comunidade escolar está convidada a fazer parte dele.
Também é possível colaborar doando pastilhas de vidro ou azulejos coloridos para compor a obra. Eles devem ter 3,7 mm de espessura.
Por que esse engenheiro cético confia na educação Waldorf?
Por Joseph Hartman, Ph.D., P.E.
Reitor da Francis College of Engineering
University of Massachusetts, Lowell.
Como professor de engenharia industrial e de sistemas há muito tempo – e pai de três crianças que frequentaram escolas Waldorf — há anos ouço perguntas sobre a eficiência do currículo Waldorf em formar engenheiros e cientistas, profissões valorizadas em um mundo definido por tecnologias cada vez mais avançadas.
Em 1995, eu estava no meu terceiro ano de pós-graduação na Georgia Tech, a principal escola na minha área. Naquele ano, conheci minha encantadora esposa Karen, que me apresentou à Pedagogia Waldorf. A palavra “cético” apenas começa a descrever minha reação a um método que enfatiza o movimento, a música e as artes visuais. Mas, sendo um estudante curioso, ouvi Karen, participei de palestras e tentei aprender. Eventualmente eu concordei que a Pedagogia Waldorf parecia uma ótima idéia, embora apenas para crianças do jardim de infância.
Nos mudamos para a Escócia por um ano e morávamos perto de uma escola Waldorf que seguia até o 12º ano. Novamente participei de palestras e questionei os professores. Fiquei chocado ao descobrir que eles ensinavam cálculo… logo após uma aula de poesia e antes de modelagem em cerâmica. Se ensinavam cálculo, eu pensava, eles teriam que fazer um bom trabalho ensinando os fundamentos da matemática e da ciência.
Mas eu ainda me perguntava como todas essas “outras” coisas (cerâmica?) ajudariam um potencial engenheiro ou cientista. Foi quando comecei a examinar de perto os meus alunos na sala de aula e o mundo em mudança que nos rodeia.
Em seu best-seller O Mundo é Plano, Thomas Friedman descreve os requisitos para os alunos em uma comunidade global altamente conectada e comandada pela tecnologia. O autor não se estende sobre habilidades tecnológicas ou a capacidade de criar códigos de computador. Em vez disso, ele ressalta quatro características para a sobrevivência:
Aprender como aprender: parece simples, mas a maioria das crianças não anda entusiasmada com a aprendizagem. Para que isso aconteça, um professor deve despertar a criança. Olhando para trás, nos lembramos de nossos professores favoritos porque eram aqueles que nos entusiasmavam com o aprender. O conteúdo ensinado por um grande professor não é palpável e, por isso, é facilmente esquecido. Em vez disso, o desejo de adquirir novos conhecimentos é o que é aprendido e mantido.
Seja curioso: curiosidade e paixão são tão importantes, se não mais importantes, do que o intelecto. Como o escritor de tecnologia Doc Searls, disse: “O trabalho importa, mas a curiosidade importa mais. Ninguém trabalha mais duro para aprender do que uma criança curiosa.
Lide bem com os outros: você deve se dar com os outros, afinal, as habilidades das pessoas nunca podem ser obtidas por outrém, mesmo em um mundo plano.
Exercite o lado direito do cérebro: simplesmente “faça algo que você gosta de fazer, porque você trará algo intangível”.
Observe que as habilidades acima não têm nada a ver com cálculos ou trigonometria. Em vez disso, elas têm tudo a ver com o amor pela aprendizagem e a exploração – pedras angulares da Pedagogia Waldorf.
Friedman continua descrevendo a transformação na minha alma mater, Georgia Tech. Em seguida, o presidente [da Georgia Tech], G. Wayne Clough reconhece que alguns dos melhores engenheiros “talvez não sejam os que possam resolver melhor um cálculo, mas aqueles que, melhor que qualquer outra pessoa, são capazes de definir o problema que um cálculo deve resolver”. Mais importante, “eles sabem como pensar de forma criativa “.
Assim, a partir do final da década de 1990, a Georgia Tech mudou seu processo de admissão para passar a aceitar mais estudantes que tocavam instrumentos musicais, cantavam em coral ou jogavam em uma equipe.
O resultado é que um estudante de informática da Tech provavelmente estará cursando um curso de computação gráfica ao mesmo tempo em que estuda Hamlet. Charles Vest, ex-presidente do MIT, faz eco a essa linha de pensamento: “as ciências humanas, as artes e as ciências sociais são essenciais para o ambiente e espírito criativos, exploratórios e abertos necessários para se educar o engenheiro de 2020”.
O fato é que um estudante bem formado, que exercita ambos os lados do cérebro é mais apto a ser criativo e curioso. Esse é o tipo de engenheiro que espero que eu seja, o tipo de engenheiro com quem quero trabalhar e o tipo de aluno a quem quero ensinar. Esse é o filho ou filha que eu quero ter. É por isso que eu confio na Pedagogia Waldorf. Educar a criança como um todo funciona em qualquer mundo, em qualquer profissão. Só posso esperar que algumas dessas crianças apareçam na minha classe algum dia, ansiosas para aprender.
O filho mais novo do Dr. Hartman atualmente frequenta a Escola Waldorf de Lexington.
Traduzido com autorização do autor. Texto original: http://thewaldorfschool.org/insight/2017/10/18/why-this-skeptical-engineer-trusts-waldorf-education
O encontro da Geometria com a Arte
Por Vilma Paschoa, professora de classe do 6º ano do Colégio Micael.
Quantas descobertas podemos realizar ao fazer uma construção geométrica! Apesar disso, a Geometria pode ser maçante se não for impregnada pela Arte. E essa ciência é tão generosa, ela se abre inteiramente para a Arte, doando magníficas oportunidades para que ela se expresse. No entanto, raramente as duas se fazem companhia!
Tudo começa com o preparo de todo o material necessário, preparo cuidadoso, meticuloso… Somente com um material adequado pode-se construir as estruturas e fundamentos para que a Arte se expresse.
Em seguida, vem o traçado, leve, sutil. Fazer Geometria é proporcionar encontros: encontros de uma linha com outra linha, encontros de linha com pontos… E tantos encontros surgem a cada traço. Esses encontros, no entanto, precisam ser delicados, nenhum deve prevalecer sobre o outro ou aparecer mais… Todos contribuem para a grande obra e possibilitam outros encontros, para que surjam novas relações. Nesse momento, a precisão é fundamental, os encontros precisam ser exatos, não se pode passar ao largo nem ultrapassar. Muita paciência e sutileza para que a harmonia apareça.
Depois, é contemplar a Grande Obra realizada e perceber, descobrir, perguntar o que ela nos revela. Muitas vezes, são inúmeras formas, combinações e até movimentos! Sim, a Geometria não é a Ciência do que é estático! Ela vive, mas nem sempre mostra essa vida com muita facilidade. É preciso conquistá-la, cortejá-la e tratá-la com muita delicadeza! Elegemos as linhas que limitarão as cores e que serão obedecidas incontestavelmente, ainda que elas desapareçam sob a cor, pois ainda estarão lá.
Escolhemos as cores. Aí vem outro diálogo: quais as cores que se ajudam, que contribuem para a máxima expressão da outra que está ao seu lado? Quais intensidades se combinam?
Ao começar a colocar as cores nas formas descobertas e eleitas, tantas outras qualidades se revelam! É preciso controlar os movimentos da mão e dos dedos, ora pressionar, ora apenas deslizar suavemente a ponta do lápis na superfície, sempre obedecendo os limites impostos pelas linhas eleitas. E, no ato de colorir, de proporcionar esses outros encontros de cores, desenvolve-se um respeito e uma admiração emocionante para com aquilo que vai surgindo, resultado de muitas escolhas, mas também de muita doação. As cores devem se espalhar uniformemente, sem deixar rastros dos lápis, preenchendo a superfície ora com mais intensidade, ora com menos, mas cobrindo todos os espaços escolhidos.
Terminado o trabalho, vem a contemplação… e, junto com ela, o julgamento. Para julgar, é preciso olhar com imparcialidade e atenção. Ninguém precisa argumentar, discutir, concordar ou discordar. Estão ali, reveladas e expostas, as conquistas e os desafios a serem superados.
O trabalho finalizado não mostra a dimensão de tudo o que aconteceu no processo, mas, sem dúvida, é belo. E não termina em si, pois logo surge a vontade de experimentar outras possibilidades, enfrentar os desafios detectados, descobrir novas relações e encontros. Enxerga-se outros ângulos, outras formas e movimentos. Mas fica para outro momento, pois aparece um grande cansaço, aquele cansaço gostoso de quem deu tudo de si e admira o resultado do seu esforço.
Eis o grande encontro da Geometria com a Arte!
Há uma mudança de paradigma na discussão pedagógica