julho 2019
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Ecologia à mesa
Durante duas semanas, os alunos do 10º ano A fizeram uma experiência para a disciplina de biologia: mudaram seus hábitos alimentares para compreender, por meio da auto-percepção, a fisiologia do trato digestório e do sistema excretor.
Os jovens receberam o desafio de consumir ao menos 2 litros de água diariamente, não comer carnes, mastigar 30 vezes cada porção que se põe na boca, fazer todas as refeições e descobrir novos sabores. Era preciso tomar nota de tudo o que percebiam que estava acontecendo: quanto comeram, o que comeram, se descobriram um novo sabor, quantas vezes foram ao banheiro, como se sentiram ao fim de cada dia.
A partir desses dados e de outros mais subjetivos, os estudantes foram capazes de avaliar de que maneira os alimentos agem sobre o corpo e como o corpo pode reagir aos alimentos.
Disposição ou sonolência, cor do xixi, frequência de idas ao banheiro e cheiro do suor foram itens em que todos puderam notar mudanças.
A partir dessas percepções, é possível compreender melhor como a máquina que chamamos de organismo trabalha.
Assim como os alunos entenderam o que funciona melhor para o organismo de cada um, também foi possível levá-los a perceber que as escolhas alimentares afetam o que está do lado externo do corpo – ou seja, o planeta em que vivemos. Existe uma ecologia para dentro da boca e outra para fora da boca. O que faz bem para o ambiente faz bem para o corpo? O que é melhor? Um alimento in natura ou um industrializado? Orgânico ou cultivado à base de pesticidas? Uma fruta ou um derivado de proteína animal? De que maneira as escolhas individuais influenciam o mundo em que vivemos?
A ideia, assim, é ao mesmo tempo conhecer e trabalhar a vitalidade interna, fisiológica, e provocar uma reflexão a respeito da ecologia de maneira mais abrangente, compreendendo que somos seres que tomam decisões e que nossas escolhas interferem no mundo.
Desse trabalho surgiram muitas reflexões interessantes a partir das discussões que aconteceram em sala de aula. Foram grandes descobertas, tanto dos alunos quanto do professor, que acha muito interessante crescer junto com esses jovens.
Por César Pegoraro, professor de biologia do ensino médio
Trechos de relatórios produzidos pelos alunos após a experiência:
“Foi uma experiência muito valiosa para mim. Ela me fez refletir sobre certos assuntos de um modo mais novo e mais aberto. (…) Além desse novo ponto de vista, o processo me proporcionou um aprendizado maior sobre o meu corpo e como ele funciona.”
Carolina Sant’Anna do Nascimento, aluna do 10º A
“Não costumo comer carne com frequência. Sou extremamente contra, ideologicamente falando. Só não deixo de comer por causa dos meus pais, que ainda não permitem. Então nesse quesito foi muito tranquilo. (…)
No início foi difícil mastigar 30 vezes cada garfada. Lentamente, isso se tornou um costume e me ajudou a comer mais devagar. Algo que faz diferença, pois me deixa mais presente durante a refeição. (…) Com certeza manterei esses hábitos, que fazem sentido com a maneira como meu corpo funciona. Sempre seguimos nos conhecendo! Obrigada, Cesinha!”
Alice Polito Silva, aluna do 10º A
“Você é o que você come! Já parou para pensar nisso? Você sabe realmente o que está comendo? O que aquele alimento faz dentro do seu corpo? Mais do que uma experiência alimentar, essa proposta foi uma experiência de vida, de autoconhecimento, de sociedade e de biologia! Mudar seus hábitos alimentares é uma escolha, influenciada pela cultura, pela sociedade, pela informação, por aquilo que você acha que é o ideal. É uma manifestação, uma maneira de vida.”
Clara Asse Moreira, aluna do 10º A
Vivendo processos com a lã
“Quando me deparei com o desafio de iniciar em 2019 um novo trabalho com as quatro classes do ensino fundamental I, senti um forte impulso de “ir além”.
Parti em busca de informações e métodos que pudessem me conduzir a esse “além” e se somassem à bagagem adquirida por mim nos últimos anos com a ajuda das queridas professoras Riva e Ana Cândida, minhas mestras no Micael.
Pretendia aprender e desenvolver novas formas de abordar a disciplina trabalhos manuais e, com isso, também levar “além” os pequenos do 1º ao 4º ano.
No 1º ano isso aconteceu de uma forma bem especial, num trabalho com lã suja de carneiro.
Começamos com uma história e, a partir dela, embarcamos numa viagem sensorial, em que a cor, o cheiro e a textura da lã mudavam a cada aula, oferecendo novas experiências visuais, olfativas e de tato aos alunos.
Num primeiro momento, as crianças manipularam a lã crua e suja, exatamente da forma como ela se encontra após a tosquia. Depois de lavar os tufos, os alunos se surpreenderam ao ver como a lã ficou branquinha, pronta para ser cardada com as mãos na aula seguinte.
Depois de cardar a lã, na última etapa os alunos conseguiram fiar material suficiente para confeccionar uma pequena pulseira.
Graças à riqueza dessa vivência, as crianças puderam entender a origem e as transformações pelas quais passa o material que as acompanhará por muito tempo nas aulas de trabalhos manuais. Tudo isso sem que fosse necessário nenhum tipo de discurso teórico!”
Por Claudia Polito, professora de trabalhos manuais do ensino fundamental 1
Fotos: Katia Geiling
“Temos muito a aprender com as abelhas”