Blog do Micael
Medindo a Terra e cultivando humanidade
Depois de dois anos sem viagem, havia uma tensão no ar… Riscos da pandemia, falta de prática pelas viagens não realizadas, desafios no fechamento da equipe de monitores, custos, enfim. Essa tal “tensão” fez com que cada detalhe fosse meticulosamente imaginado, pensado e planejado. A confiança, esforço e apoio das famílias foi providencial. O resultado foi além do esperado! Abaixo trarei uns detalhes dessa jornada.
A 25° viagem de Agrimensura do Colégio Micael, coordenada pelo professor Mauro Porrino, iniciou-se em fevereiro, em meio a tantas incertezas, dada a instabilidade das questões sanitárias associadas à pandemia do Covid-19. Haveria mesmo condição para acontecer?
Um desafio também foi fechar a equipe de monitores, formada por alunos e alunas de anos anteriores que ajudam nos trabalhos de campo. Como nos dois últimos anos essa viagem não ocorreu, nas turmas dos atuais 11° e 12° infelizmente não havia monitores para convidar. A solução foi apelar para ex-alunos. Ao final, Camila, Hurian e Miguel (todos do “13ºA”) e Maira (professora de Trabalhos Manuais e ex-aluna) formaram o quarteto de monitores que, junto com Mauro, promoveria a apropriação da técnica da Agrimensura pela turma.
Botucatu era o destino da viagem, e lá o local escolhido para o trabalho foram lotes do condomínio Atiaia, vizinho da pousada Guaimbê, onde ficamos hospedados.
A cada ida ao campo, uma caminhada de 20 minutos era necessária, promovendo um momento social intenso e divertido, além do exercício físico diário!
A turma foi dividida em cinco grupos, cada qual com o seu terreno. Diariamente, antes de sair da pousada, era passada a técnica que seria vivenciada, para que uma nova etapa de coleta de dados acontecesse.
Teodolitos, balizas, trenas, réguas, pranchetas, tripés, lápis e muita energia! Mistura de elementos para tornar olhares amplos e dispersos em miradas precisas!
A visão da vastidão assumindo pontos de referência e contorno certos. Inclinações e desníveis sendo aprumados a todo o tempo. Fórmulas matemáticas traduzindo o espaço! Ângulos, ré, vante, nível, limites, pontos de referência, métricas, ritmo, esses eram elementos aplicados na medição da terra que estavam reverberando também dentro de cada ser ali presente.
Dias de convívio intenso, tanto pelas equipes de trabalho, como pelos quartos coletivos, foram aproximando mais e mais a turma. Trocas de histórias, abraços, risadas, acolhimentos e encorajamentos pelas situações vividas. Novas amizades, intimidade e confiança a todo o tempo.
Dois momentos externos foram mágicos. Uma ida à pizzaria Bel, onde encontramos algumas pessoas da Escola Waldorf Aitiara. Fomos convidados a visitar o colégio e a encontrar o 10° ano de lá. No dia seguinte, ao final do trabalho, uma longa e animada partida de queimada selou a amizade entre esses 10°s anos. Foi divertido e socialmente marcante. Novos encontros virão.
Foi assim que se desenrolou a semana do dia 29/05 a 4/06.
Acredito piamente que essa retomada às viagens pedagógicas trouxe de volta uma energia meio esquecida à turma. Energia social, de trabalho, de amadurecimento pessoal, de contemplação das ciências do mundo, de superação de questões íntimas, enfim, muitas transformações ocorreram nesses jovens.
Voltamos dessa viagem, sem sombra de dúvidas, muito maiores do que partimos. Que venham mais oportunidades e novos horizontes.
Com satisfação,
Cesar Pegoraro, tutor do 10º A de 2022
“Houve momentos de trabalho e desafios, mas também muitas risadas e conversas que ficarão para a vida. Cada grupo teve um terreno diferente para aplicar todo o conhecimento de agrimensura, que foi nascendo durante esses dias de viagem. Um sentimento que fica é de que o terreno que trabalhamos se torna um amigo, pois é dali que nascem os laços de amizade e trabalho. Era muito interessante quando todos se juntavam ao final de cada dia de trabalho e observavam que mesmo cada grupo tendo seu ritmo, o trabalho permanecia igual. O que eu levo dessa viagem é a felicidade de poder ter convivido mais com os meus colegas e de viver a matemática, a observando por onde eu vou.”
Beatriz Monteiro Borba, aluna do 10º A de 2022
“Foi uma experiência renovadora. Termos todos da sala juntos em um objetivo coletivo foi um “respiro” para cada um de nós. Havia tempo que não viajávamos ou fazíamos algo juntos fora da escola, fora da rotina contínua. Antes mesmo da viagem, todos da sala fizeram o possível e o impossível para que ninguém deixasse de ir. Infelizmente, um de nós não pôde viajar e isso formou uma lacuna no coração. Foram dias incríveis. Houve mudanças, aproximação, empatia, cuidado e o melhor de tudo: harmonia.”
João Victor França, aluno do 10º A de 2022
Abraçando a diversidade
“Era em tempos antigos,
Em que vivia vigoroso na alma dos iniciados,
O pensamento de que doente por natureza todo
Ser humano é.
Considerava-se a educação igual ao processo de cura,
O qual junto com o amadurecer,
Trazia saúde à criança,
Para ela tornar-se plenamente humana na vida.”
Rudolf Steiner
Núcleo de Apoio Micael (NAMI)
A pedagogia Waldorf baseia-se na visão de Rudolf Steiner sobre o desenvolvimento saudável do ser humano. Nossa escola sempre procurou compreender e atuar da melhor forma com cada indivíduo. Desde a sua fundação, o Colégio Micael recebe crianças com necessidades específicas, tendo um corpo docente sensível e defensor da inclusão.
Há alguns anos, foi criado no Colégio Micael um grupo de estudos que tinha a intenção de compreender mais profundamente casos de alunos que traziam desafios maiores e a melhor forma de atuar com eles. Nos encontros semanais desse grupo eram realizadas leituras e discutidas questões práticas, como adaptação de conteúdos e materiais, entre outros pontos.
Há cerca de dois anos, numa reunião na FEETS (Federação de Educação Terapêutica e Pedagogia Social) sobre o tema da inclusão, tivemos uma troca muito rica com outras escolas e conhecemos um modelo que parecia ser muito bom. Esse modelo foi trazido ao Colégio Micael e formaram-se dois grupos, que inicialmente receberam os nomes de Comissão de Inclusão e Comissão de Inclusão-Pais.
Após o amadurecimento sobre a real função de cada um deles, esses grupos ganharam nova identidade. O grupo ligado aos professores foi batizado de Núcleo de Apoio Micael – NAMI e o dos pais passou a se chamar Comissão do ABRAÇO.
Baseado na Antroposofia, o NAMI é uma comissão composta por todos os professores que querem e podem colaborar com seu interesse e conhecimento, acompanhados pela presença de uma pediatra e de uma neuropediatra, ambas com formação ampliada na arte médica antroposófica. O grupo conta também com uma fonoaudióloga especializada no método Padovan e uma euritmista terapêutica. É um espaço multidisciplinar para a troca de experiências, saberes e busca de caminhos pedagógicos mais adequados para uma classe ou um aluno com dificuldades de aprendizagem ou necessidades específicas.
Grupo de Apoio Pedagógico
Dentro dessa proposta do NAMI, as professoras e psicopedagogas Patrícia Nora e Leni Attarian, especializadas também no método Extra Lesson, estão à frente do GRUPO DE APOIO PEDAGÓGICO, coordenando os trabalhos que envolvem o apoio aos professores, o contato com os profissionais terapêuticos das crianças, com os pais e orientação de estagiários. São também responsáveis pelos atendimentos na área de Recursos Especiais em Pedagogia Waldorf (Extra Lesson).
A partir da indicação do professor de classe ou tutor, que sente a necessidade de um olhar pedagógico especial para determinada criança ou jovem, é feito o pedido de uma avaliação. O Grupo de Apoio entra em contato com as famílias para agendar uma avaliação e dar prosseguimento nos atendimentos.
Extra Lesson
Desde 2003, a escola vem sediando a formação de Recursos Pedagógicos Especiais (Extra Lesson) com professores estrangeiros convidados, de experiência comprovada e reconhecimento internacional. Esse curso tem a duração de aproximadamente quatro anos de especialização. Como o Micael sediou essa formação, temos o privilégio de contar com profissionais certificados atuando com nossos alunos desde 2005.
O Extra Lesson é uma ferramenta muito importante para ajudar as crianças em seu desenvolvimento. Ele as auxilia a a superar limitações, adquirir habilidades ou melhorar aquisições motoras por meio de exercícios de movimento (psicomotricidade), desenho e pintura. A partir de uma avaliação, é possível identificar as dificuldades e necessidades dos alunos. Esse é um passo fundamental para utilizar esses recursos especiais que ajudarão na harmonização do ser.
Comissão do Abraço
Foi criada a partir de um movimento de mães que sentiam a necessidade de se acolher e partilhar suas vivências no processo de aprendizagem de seus filhos. O esforço era de, amorosamente, fazer uma ponte com os professores, apoiando iniciativas no sentido da inclusão.
Nesse processo, intensificou-se a vontade dentre as/os participantes de se tornar um grupo de estudo ou até mesmo uma comissão para ajudar a escola e trabalhar formas de acolher as crianças. A médica antroposófica Luciana Santos Miguel sugeriu que esse grupo se tornasse um parceiro da Comissão de Inclusão, que carregava o tema dentro da escola. O intuito era que pais, mães e professores trilhassem juntos caminhos possíveis para a inclusão, aproximando práticas que vêm sendo desenvolvidas com sucesso e cientificidade aos princípios consolidados da antroposofia, acreditando na potência desse encontro.
A Comissão do Abraço, em seus dois anos e meio de existência, já promoveu seis palestras com especialistas técnicos de dentro e de fora da Antroposofia, uma roda de conversa com especialista doutora em inclusão e intensas trocas de textos, documentos e vídeos sobre o tema. Ressalte-se a aproximação feita com a FETTs, que resultou em uma palestra com Paula Mourão, frutificando novos encontros pedagógicos com os professores da escola.
Os encontros acontecem quinzenalmente, em cronograma construído coletivamente e trocas por meio de grupo no Telegram. A Comissão do Abaço é aberta à participação de todos aqueles que se vêem chamados e aos pais e mães que precisam de um lugar de escuta e apoio.
Todo esse esforço nasce de um impulso de verdadeiramente contribuir para que a escola se destaque na tarefa de incluir toda a diversidade humana, pois a comissão acredita, como diz Steiner, que “se estivermos vigilantes, não passará um só dia sem que aconteça um milagre em nossas vidas”. Incluir é um desses milagres.
Sobre pandemia, fraternidade e sonhos
O nome não poderia ser mais apropriado: Rádio Escafandro, um “podcast para mergulhos profundos”, como bem define o texto de apresentação do projeto criado pelo jornalista e escritor Tomás Chiaverini, ex-aluno do Micael.
Há dois anos no ar, o programa conta com quase 500 assinantes- apoiadores que fazem contribuições mensais a partir de R$ 5 para viabilizar a produção de episódios quinzenais.
Cada podcast tem uma hora de duração e é inteiramente concebido, produzido, redigido, editado, sonorizado e apresentado por Tomás. “Acho que o fato de eu ter formação Waldorf, que abre muitas possibilidades para o aluno, contribui na hora de dar conta de tantas tarefas”, observa o jornalista.
Ciência, cinema, política, sistema prisional, sonhos. São variadíssimos os temas nos quais o ouvinte do Escafandro é convidado a mergulhar por 60 minutos, sem perceber o tempo passar.
No episódio de número 44, lançado esta semana, Tomás retorna a águas muitas vezes dantes navegadas, as do Colégio Micael, e vai fundo na história da vocação social da escola onde estudou do jardim ao 12º ano.
O desejo de dedicar um programa ao tema nasceu quando o jornalista soube do movimento de economia fraterna que o colégio começou a trilhar em 2020, uma resposta da comunidade às enormes dificuldades que a pandemia impôs às famílias da escola.
Ao longo de vários meses, num processo de muito diálogo, o Colégio Micael iniciou o desenho de um novo modelo econômico para custear suas despesas, baseado em contribuições fraternas, não mais em mensalidades fixas. Quem pode pagar um pouco mais que o valor sugerido ajuda a viabilizar os estudos de quem precisa pagar um pouco menos.
Além de permitir que e escola seja mais diversa e inclusiva, o modelo deixa mais claro o tamanho da responsabilidade de todos no equilíbrio financeiro da comunidade, algo que não ficava tão evidente com a política de concessão de bolsas, que sempre existiu colégio.
Para contar como o Micael foi amadurecendo sua vocação social até chegar a esse exercício fraterno impulsionado pela pandemia, Tomás traça um arco que começa na fundação da escola, em 1978. Sua primeira entrevistada é a educadora Áurea Machorro, uma das fundadoras do colégio. Ela conta que o grupo fundador sempre teve o sonho de desenvolver um trabalho social com os moradores da favela do bairro, que já existia quando a escola foi erguida no Jardim Boa Vista.
Ao longo do episódio, o ouvinte navega em muitas passagens da história micaélica, passando por lembranças do autor, pela criação do ensino médio noturno e pelo grande baque que a pandemia provocou na vida de professores, alunos e suas famílias.
A história é permeada por relatos de duas alunas do ensino médio, Rayanna Carneiro e Alice Polito, do gestor Roberto Veiga, do professor Daniel Kulaif e de Mauricio Santos, pai de três alunos, integrante do Conselho de Pais e um dos grandes incentivadores do processo de economia fraterna.
Para ouvir o episódio 44 da Rádio Escafandro acesse aqui.
Quer se tornar um assinante-apoioador do podcast? Veja aqui como é simples.
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Medindo a Terra e cultivando humanidade
Depois de dois anos sem viagem, havia uma tensão no ar… Riscos da pandemia, falta de prática pelas viagens não realizadas, desafios no fechamento da equipe de monitores, custos, enfim. Essa tal “tensão” fez com que cada detalhe fosse meticulosamente imaginado, pensado e planejado. A confiança, esforço e apoio das famílias foi providencial. O resultado foi além do esperado! Abaixo trarei uns detalhes dessa jornada.
A 25° viagem de Agrimensura do Colégio Micael, coordenada pelo professor Mauro Porrino, iniciou-se em fevereiro, em meio a tantas incertezas, dada a instabilidade das questões sanitárias associadas à pandemia do Covid-19. Haveria mesmo condição para acontecer?
Um desafio também foi fechar a equipe de monitores, formada por alunos e alunas de anos anteriores que ajudam nos trabalhos de campo. Como nos dois últimos anos essa viagem não ocorreu, nas turmas dos atuais 11° e 12° infelizmente não havia monitores para convidar. A solução foi apelar para ex-alunos. Ao final, Camila, Hurian e Miguel (todos do “13ºA”) e Maira (professora de Trabalhos Manuais e ex-aluna) formaram o quarteto de monitores que, junto com Mauro, promoveria a apropriação da técnica da Agrimensura pela turma.
Botucatu era o destino da viagem, e lá o local escolhido para o trabalho foram lotes do condomínio Atiaia, vizinho da pousada Guaimbê, onde ficamos hospedados.
A cada ida ao campo, uma caminhada de 20 minutos era necessária, promovendo um momento social intenso e divertido, além do exercício físico diário!
A turma foi dividida em cinco grupos, cada qual com o seu terreno. Diariamente, antes de sair da pousada, era passada a técnica que seria vivenciada, para que uma nova etapa de coleta de dados acontecesse.
Teodolitos, balizas, trenas, réguas, pranchetas, tripés, lápis e muita energia! Mistura de elementos para tornar olhares amplos e dispersos em miradas precisas!
A visão da vastidão assumindo pontos de referência e contorno certos. Inclinações e desníveis sendo aprumados a todo o tempo. Fórmulas matemáticas traduzindo o espaço! Ângulos, ré, vante, nível, limites, pontos de referência, métricas, ritmo, esses eram elementos aplicados na medição da terra que estavam reverberando também dentro de cada ser ali presente.
Dias de convívio intenso, tanto pelas equipes de trabalho, como pelos quartos coletivos, foram aproximando mais e mais a turma. Trocas de histórias, abraços, risadas, acolhimentos e encorajamentos pelas situações vividas. Novas amizades, intimidade e confiança a todo o tempo.
Dois momentos externos foram mágicos. Uma ida à pizzaria Bel, onde encontramos algumas pessoas da Escola Waldorf Aitiara. Fomos convidados a visitar o colégio e a encontrar o 10° ano de lá. No dia seguinte, ao final do trabalho, uma longa e animada partida de queimada selou a amizade entre esses 10°s anos. Foi divertido e socialmente marcante. Novos encontros virão.
Foi assim que se desenrolou a semana do dia 29/05 a 4/06.
Acredito piamente que essa retomada às viagens pedagógicas trouxe de volta uma energia meio esquecida à turma. Energia social, de trabalho, de amadurecimento pessoal, de contemplação das ciências do mundo, de superação de questões íntimas, enfim, muitas transformações ocorreram nesses jovens.
Voltamos dessa viagem, sem sombra de dúvidas, muito maiores do que partimos. Que venham mais oportunidades e novos horizontes.
Com satisfação,
Cesar Pegoraro, tutor do 10º A de 2022
“Houve momentos de trabalho e desafios, mas também muitas risadas e conversas que ficarão para a vida. Cada grupo teve um terreno diferente para aplicar todo o conhecimento de agrimensura, que foi nascendo durante esses dias de viagem. Um sentimento que fica é de que o terreno que trabalhamos se torna um amigo, pois é dali que nascem os laços de amizade e trabalho. Era muito interessante quando todos se juntavam ao final de cada dia de trabalho e observavam que mesmo cada grupo tendo seu ritmo, o trabalho permanecia igual. O que eu levo dessa viagem é a felicidade de poder ter convivido mais com os meus colegas e de viver a matemática, a observando por onde eu vou.”
Beatriz Monteiro Borba, aluna do 10º A de 2022
“Foi uma experiência renovadora. Termos todos da sala juntos em um objetivo coletivo foi um “respiro” para cada um de nós. Havia tempo que não viajávamos ou fazíamos algo juntos fora da escola, fora da rotina contínua. Antes mesmo da viagem, todos da sala fizeram o possível e o impossível para que ninguém deixasse de ir. Infelizmente, um de nós não pôde viajar e isso formou uma lacuna no coração. Foram dias incríveis. Houve mudanças, aproximação, empatia, cuidado e o melhor de tudo: harmonia.”
João Victor França, aluno do 10º A de 2022